Na primeira postagem dos intestinos preguiçosos, adiantamos que não iríamos tratar sozinhas sobre as conseqüências da constipação para a saúde. Pois bem, eis porque reservamos esse assunto para o final da série, trazendo como colaboradora a Nutricionista Maria Tereza Casulli.
Então vamos apresentá-la: A Nutricionista Maria Tereza que, com a devida licença, será chamada de agora em diante Tereza, é grande propagadora da Alimentação Natural como meio de preservar ou melhorar a saúde. Formada há mais de 20 anos, dedica-se à orientação clínica nutricional, colocando a serviço uma gama de talentos que vão desde a ciência da nutrição até muita psicologia para bem avaliar e estímular mudanças comportamentais nos pacientes em benefício de sua saúde.
DoceClaris: Afinal o que é, em essência, a Alimentação Natural?
Tereza: A Alimentação Natural se apoia em dois princípios fundamentais: 1) Os alimentos mais apropriados para o ser humano são aqueles que se encontram disponíveis na região e ainda, o mais próximo possível do estado em que a natureza nos oferece; 2) O corpo humano é soberano, e um aparelho digestivo fortalecido é capaz de fabricar e disponibilizar tudo o que o corpo precisa. A ciência atual já admite que, num intestino com microecologia (
microflora + meio circundante) interna correta, as bactérias são capazes de fabricar até vitamina B12, que sempre foi tida como uma vitamina de fonte exclusivamente animal. No ramo da nutrição clínica funcional, o intestino é hoje considerado nosso 2º cérebro, pois suas paredes também produzem neurotransmissores para suprimento de todo organismo!
DoceClaris: Então vamos falar de constipação: aparentemente, muita gente não sabe quão lenta é a sua digestão. A incidência de constipação na população é muito grande?
Tereza: É enorme! E, embora esta não seja uma estatística epidemiológica, em minha experiência clínica mais de 50% dos pacientes apresenta constipação. Este sofrimento pode envolver muitos fatores desde emocionais até a questão do tempo, muito relevante. Adultos hoje se comportam como crianças que, enquanto estão brincando, não podem parar para seguir o instinto fisiológico. Os adultos não têm tempo de ir ao sanitário e sentar, não podem parar o que estão fazendo. Muitos sentem o estímulo fisiológico mas têm o inconveniente de não poderem fazer fora de casa. A vida moderna acaba gerando esses problemas. Numa conversa na clínica a gente pode avaliar que o intestino - a natureza - até tenta mostrar um caminho, dar um sinal, mas a pessoa não deixa transcorrer da forma natural como deveria. Até em consultório a gente ter que falar: “Quebre uma barreira e, diante do sinal, aprenda a utilizar o toillete da empresa. Aprenda a disponibilizar meia hora para ficar sentado, pra deixar a natureza agir”.
DoceClaris: E o que não seria constipação, torna-se.
Tereza: Há ainda um fator emocional, o apego. O intestino preso está muito ligado ao apego. Normalmente o constipado costuma ter gavetas entulhadas de coisas, armários lotados, coisas que se acumulam. E o intestino também manda mensagem dando sinais de como é o comportamento, o sentimento da pessoa.
Mas o mais importante, afinal, é a questão da hidratação. Numa simples conversa na clínica a gente avalia a hidratação. Normalmente, o indivíuo que é obstipado, cujo intestino não funciona direito, a gente não chama de ressecado? Pois então, é por que está seco! Toda a captação e distribuição da água do organismo é feita no intestino; os órgãos todos, as células, o sistema de defesa, o sangue, precisam de água em abundância e, sendo sua necessidade maior, acaba sobrando muito pouco no intestino. Nessas condições, às vezes a pessoa entra com uma conduta de fibras, o que exige uma hidratação ainda maior.
Imagine você colocar fibras muito secas (farelos) num lugar que já está ressecado! Isso pode gerar um problema muito maior do que o que havia anteriormente. Pode ocorrer uma obstrução de alça, formar um bolo obstrutivo muito grande.
Então o primeiro fator a ser observado é a hidratação. São dicas simples, a gente tem que começar interferindo em coisas simples assim, como é o ato de beber água. Dizemos que a quantidade ideal é 30ml por kg de peso por dia. Temos que esinar as pessoas a começarem o seu dia, a sair do jejum, tomando 2 copos de água, e então a darem continuidade com esse volume de água durante o resto do dia para promover a hidratação. Esse é o primeiro passo para ajudar o intestino.
DoceClaris: E qual o “custo” da constipação para a saúde em geral?
Tereza: É como falar que “fulano é enfezado”. A palavra já diz, é um indivíduo cheio de fezes. E um intestino assim vai ser um capturador, vai promover a absorção de substâncias tóxicas. A permanência de fezes no intestino, e conseqüente fermentação, vai gerar substâncias tóxicas para o corpo, de nomes nada bonitos, nada agradáveis como cadaverina, putrefatina, etc. Quanto mais tempo, quanto mais contato com a luz intestinal, esta vai sofrendo a ação desssas substância nocivas. E o contato da parede intestinal com essas substâncias pode induzir uma hiperpermeabilidade, tornando o intestino uma peneira, que impede a absorção e permite a migração para a corrente sangüínea de alguns peptídeos capazes de provocar ataques de alergia pois o sistema imunológico detecta essas substância como um corpo estranho.
Isso tem grande relação com a enorme incidência de alergias alimentares, em especial a lácteos e a glúten. As alergias ocorrem por substâncias dos próprios alimentos, por peptídeos em princípio inofensivos como os de frango, de ovos, de carne vermelha, ou mesmo de glúten, que é uma macromolécula de alta permeabilidade. Assim, os alimentos apresentam diferentes graus de alergenicidade, sendo o do trigo um dos maiores.
Com a migração dessas substâncias para a corrente sangüínea e o conseqüente ataque do sistema de defesa, uma série de sintomas de difícil diagnóstico passam a se manifestar no indivíduo como por exemplo cansaço, sonolência, falta de concentração, dor articular, distúrbio de atenção em crianças, hiperatividade...
DoceClaris: Como deve proceder uma pessoa para avaliar se é constipada ou não?
Tereza: Diante de uma alimentação correta e dado um nível normal de exercício físico, um intestino saudável deveria promover uma evacuação para cada refeição principal, num tempo entre 8 e 12 horas depois dela. O saudável seria 3 vezes por dia, uma para cada uma das principais refeições.
Pode ocorrer de haver tal freqüência mas nunca se esvaziar o intestino, o que também não é uma condição ideal. Então diagnosticamos a constipação pela observação de esforço para evacuar, produção excessiva de gases, gases de forte odor, fezes empedradas (tipo cabritinho), esgarçada, rachada, ou em que se pode visualizar o alimento que foi ingerido, o que não é desejável pois característico de uma má digestão, falta de enzimas e má absorção.
DoceClaris: O que mais a análise das fezes pode dizer ao observador?
Tereza: A análise das fezes permite avaliar o grau de absorção e aproveitamento dos nutrientes. A presença de muco, por exemplo, é um grande desperdício de minerais e de proteínas. Um alto consumo de papel para higienização após a evacuação indica uma desbiose intestinal, ou seja, que está havendo um crescimento de
bactérias nocivas superior ao dos
lactobacilos e outros microorganismos benéficos, o que também incorre em má absorção de nutrientes. O saudável seria não precisar de higienização após a evacuação, como os animais.
DoceClaris: E sobre as análises clínicas de fezes? Avaliam assim também?
Tereza: A atual análise clínica de fezes não leva em conta estas coisas. Nos primórdios da medicina, a análise das fezes e da urina era importante fonte de dados para os estudos, assim como hoje o é para o ramo da Nutrição Clínica Funcional.
Este ramo da Ciência da Nutrição desenvolveu todo o seu procedimento para melhorar, recuperar e potencializar a saúde do aparelho digestivo com foco no intestino. O indivíduo enfezado (cheio de fezes) tem o seu humor deprimido e comprometido pois intestino congestionado é causa de depressão. Para nós, intestino limpo e descongestionado implica em cabeça firme, leve e decidida.
Interessantíssimo! Esta entrevista com a Nutricionista Maria Tereza Casulli rendeu um filhotinho: em outra postagem vai o instigante assunto sobre Energia Vital dos alimentos. Até lá.